Fogueira da Paixão / Possessed


Nota: ★★☆☆

 Anotação em 2006, com complemento em 2008: Como tantos filmes estrelados por Bette Davis e Joan Crawford nos anos 30 e 40, este filme aqui foi feito sob encomenda, sob medida, para a grande estrela brilhar. É um veículo para a grande estrela. Tudo no filme serve de escada para a estrela.

O começo impressiona – uma Joan Crawford maquiada para parecer mais velha do que os 42 anos que tinha na época, doente e pálida, perambula sem rumo pelas ruas de Los Angeles, à procura de um homem chamado David. Ela vai desmaiar e em seguida aparece num leito de hospital.

O lead resume o que é o filme, e com menos de um minuto o espectador sabe que haverá flashbacks.

E haverá muitos flashbacks, através dos quais o espectador ficará sabendo que ela tem uma obsessão doentia, profundamente doentia, por esse David, o papel de Van Heflin.

 Joan Crawford já havia sido a estrela de um outro filme com o mesmo título original, Possessed. Esse outro Possessed, que no Brasil se chamou Possuída, não tem absolutamente nada a ver com este aqui, a não ser o título; foi dirigido por Clarence Brown em 1931, e me pareceu muito avançado, à frente do seu tempo.

 Eis a resenha de Pauline Kael, com o texto sempre irônico e gostoso dela, na tradução de Sérgio Augusto, sobre este Possessed de 1947:

 “‘Eu te amo’ é uma forma tão inadequada de dizer eu te amo”, murmura a apaixonada Joan Crawford a seu namorado (Van Heflin). Quando ele, que é engenheiro e também um empedernido conquistador, observa, num trecho de êxtase tecnológico, que a viga-mestra por ele projetada é mais bonita que a srta. Crawford, ela se queixa: “Por que você não me ama assim? Eu sou muito mais bonita que uma viga-mestra”. Heflin não consegue ser da mesma opinião, e logo, em desespero, ela se casa com Raymond Massey, um figurão do petróleo, pai de uma filha esperta (Geraldine Brooks). Ver Heflin apaixonar-se pela enteada revela-se demais para Crawford, que desaba com um caso de esquizofrenia que realmente abala as paredes do sítio de Massey, e aí é rebocada pelos psiquiatras. Em termos de suspense, este filme, dirigido por Curtis Bernhardt, é muitas vezes impressionante, e ele e seu elenco dão o melhor de si. A insanidade é usada, à típica maneira da Hollywood da década de 40, como pretexto para carregar no dramalhão; não há um pingo de credibilidade – é isso em parte que torna o filme divertido.”  

Fogueira da Paixão/Possessed

De Curtis Bernhardt, EUA, 1947.

Com Joan Crawford, Van Heflin, Raymond Massey, Geraldine Brooks, Stanley Ridges, Moroni Olsen, John Ridgely, Monte Blue

Roteiro Silvia Richards e Ranald MacDougall

Basedo na história One Man’s Secret, de Rita Weiman

Música Franz Waxman

Produção Jerry Wald, Warner Bros.

P&B, 108 min.

5 Comentários para “Fogueira da Paixão / Possessed”

  1. Acabei há pouco de ver e gostei bastante. Não tem as qualidades para se tornar uma obra de culto, ao contrário de Mildred Pierce. Ainda assim, é bastante bom. O trabalho de câmara está qs ao nível de Mildred Pierce e é de facto, a par da interpretação de Joan, o melhor ponho do filme. Agradável, com suspense e interpretações apreciáveis. Uma descoberta saborosa para compensar a minha desilusão com o musical Love me or Leave me

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