Orfeu


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 1999: Não conseguimos ver tudo; vimos uma meia hora, 40 minutos, e já foi demais. É tudo fake demais. Orfeu, o sambista, do morro, trabalha num belo computador e usa celular Startac último modelo. Eurídice vem do Acre de avião. Mira, a namorada gostosa da qual Orfeu está cansado, saiu na capa da Playboy. O  barracão de Orfeu na favela é decorado como se estivesse seguindo a última edição da Casa & Jardim.

Os atores estão todos, todos lamentáveis. O par central, então, formado por gente que nem é do ramo, então…

Acho que é uma questão de pretensão. Transportar Orfeu e Eurídice para a favela nos anos 50, com todo o romantismo terno e ingênuo que podia se associar a favela na época, já era uma parada dura. Fazer isso agora, no Rio de Janeiro maravilhoso mas cheio de todas as mazelas possívels e imagináveis, e misturar traficante de droga, polícia, globalização, requereria um engenho e uma arte que, cacilda, nenhum roteirista deste país – ou de qualquer outrro – teria.

Não dá. Não é má vontade – afinal, acho Bye Bye Brasil um dos melhores filmes feitos no Brasil, gostei demais de Tieta do Agreste e de tantos outros filmes do Cacá, -, mas este aqui não dá.

O Jornal da Tarde diz que o filme teve 1,1 milhão de espectadores. Tomara que tenha tido. Eu tive a sensação de que ficou muito pouco tempo em cartaz pra tudo isso.

Escolherem como o filme brasileiro candidato a uma das cinco vagas de indicado ao Oscar. Tem elementos pra isso: o Orfeu do Camus levou Cannes e Oscar, Cacá Diegues teve filmes bem comercializados nos Estados Unidos, é uma superprodução, tem carnaval, tem miséria exótica diante da beleza de cartão postal do Rio, e a fotografia é de fato deslumbrante e competente. Mas eu acho que não tem chance de ficar entre os cinco. É ruim demais, é samba de um batalhão de crioulos doidos.

Orfeu

De Carlos Diegues, Brasil, 1999,

Com Toni Garrido (Orfeu), Patrícia França (Eurídice), Murilo Benício, Zezé Motta, Milton Gonçalves, Isabel Fillardis, Stepan Nercessian, Maria Ceiça

Roteiro Carlos Diegues

Baseado na peça de Vinicius de Moraes

Música Caetano Veloso, com canções de Vinícius de Moraes

Fotografia Affonso Beato

Cor, 110 min

3 Comentários para “Orfeu”

  1. Sérgio,
    apos ler sua critica sinto me no dever de te indicar o filme Orfeu Negro, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro.
    Não tenho certeza se é uma produção brasileira, no entanto seus atores são. Lembro-me que a trilha sonora é composta por Tom Jobim, e o roteiro se não me engano conta com a participação de Vinicius de Moraes.
    Sim o filme se passa no RJ dos anos 50, mas acredito que o sr iria gostar. É uma beleza.

  2. Olá, Felipe!
    Muito obrigado pelo comentário – e também pela sugestão. Claro, ouvi falar muito de “Orfeu Negro”, mas nunca vi. É uma das muitas falhas no conhecimento do cinema. Vou colocar na minha lista de Filmes a Ver. O problema é que essa lista é imensa…
    Um abraço.
    Sérgio

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