Moby Dick


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 1999, com complemento em 2008: Eis aí um grande clássico que eu nunca tinha visto na vida – e que simplesmente detestei. Este é, possivelmente, o primeiro grande clássico que eu vejo e detesto em tudo por tudo, sem qualquer respeito ao mestre John Huston, à lenda toda que cerca o filme e o livro. Me pareceu chato, chatíssimo, insuportavelmente chato. Não li o romance de Herman Melville – e nunca, jamais, em tempo algum, quero ler. Coisa chata, babaca, coisa de protestante do século passado, cheio de digressões sobre o que o Senhor quer e o Senhor não quer, citações de Jonas, o da baleia.

O próprio Huston adora o filme, conforme reli na sua autobiografia; se orgulha dele. Os efeitos técnicos, em uma era tão pré Industrial Light and Magic, parecem excepcionais; as filmagens duraram dois anos, Huston estourou o orçamento e teve problemas sérios com os produtores; Huston diz que o filme, assim como o livro, “é uma blasfêmia”:

“Ahab vê na Baleia Branca a máscara da Divindidade, que, para ele, é uma força maligna. O prazer de Deus consiste em atormentar e torturar a humanidade. Não que Ahab O repudie, simplesmente considera-O criminoso – idéia totalmente sacrílega”.

Huston pode ter sentido prazer em produzir o que considerava um sacrilégio, uma blasfêmia. Para mim, no entanto, é tudo chato. Ahab é um chato de galocha, com sua obsessão à la Capitão Gancho. Os seus marujos – tanto os que o veneram, tanto os que o temem, tanto os que veneram e temem – são uns chatos de galocha. O Deus protestante que manda matar baleias enquanto isso é economicamente saudável e necessário, mas pune quem mata baleias não porque é economicamente saudável e necessário, mas porque é uma obsessão, é um chato de galocha. O padre que conta a história de Jonas (um ridículo Orson Welles num ridículo púlpito em forma de navio, que sobe ao púlpito em escadinha de navio e depois a retira, com uma barba ridícula e ridiculamente falsa) é um chato de galocha.

A idéia de que o vento, o mar, a natureza toda é usada pelo Deus protestante contra quem mata baleia por obsessão e não para ativar a economia capitalista é insuportavelmente chata. E, cá pra nós, a idéia de que é possível reencontrar, depois de anos, em um dos oceanos do planeta, a exata mesma baleia que comeu a perna do Ahab, cacilda, é indecentemente grotesta, ridícula – e chata.

Que me perdoe o mestre Huston.

 

         Vamos ver outra opinião.

         Pauline Kael, a legendária crítica americana, diz que há muitos motivos para se ver o filme, mas faz algumas ressalvas. “Apesar de toda a sua dedicação a este ambicioso projeto, o diretor, John Huston, não deve ter podido manter seu nível de energia; às vezes seu trabalho parece surpreendentemente perfunctório. (…) Gregory Peck – o menos demoníaco dos galãs – é um Ahab desastroso; barbudo, parece um Lincoln de teatro-mambembe. E o filme não resultou em nada que se pareça ao romance; não tem a unidade, o ritmo, a poesia, o pensamento em ação.”

Moby Dick

De John Huston, Inglaterra, 1956.

Com Gregory Peck, Richard Basehart, Leo Genn, Harry Andrews, Bernard Miles, Orson Welles, Friedrich Ledebur, James Robertson Justice

Roteiro John Huston e Ray Bradbury

Baseado no romance de Herman Melville

Música Philip Stainton

Produção John Huston e Vaughan N. Dean

Cor, 116 min.

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