A Lágrima Que Faltou / The Five Pennies


Nota: ★½☆☆

Anotação em 1999: O mais espantoso, ou marcante, ou ambos deste filme é a falta de ritmo, de estilo, de decisão do diretor a respeito do que raios ele queria fazer. Começa como uma comedinha leve, meio sem graça e absurda, com o trompetista de Ogden, Utah, chamado Red Nichols, chegando a Nova York em 1924 para tocar com um band leader cantor meloso.

Danny Kaye o constrói inicialmente como uma mistura de bom músico (do estilo dixieland, preto demais para os lugares finos de Nova York), meio pateta-trapalhão, meio ousado demais para o tempo e o lugar. Esse início do filme é realmente bem idiota, com Barbara Bel Geddes (apenas um ano depois de Um Corpo Que Cai) fazendo uma personagem que nas primeiras cenas parece uma corista meio puta da Broadway e logo em seguida, com dez minutos de filme, se demonstra a noiva moça de família do Brooklyn que o músico maluco-caipira sempre desejou na vida.

Casam-se, têm uma filha, formam uma banda e começam a rodar pelo país. Aí, de repente, como num passe de mágica, o que começou como comédia absurda, amalucada, boba e sem graça adquire o jeitão de uma cinebiografia meio cor-de-rosa do músico, à la Música e Lágrimas/The Glenn Miller Story. Na banda liderada por Red Nichols, passam lendas como Jimmy Dorsey, o próprio Glenn Miller, Benny Goodman, Gene Krupa.

Temos alguns minutos disso, e eis que de repente o estilo muda de novo; num belo momento em que os músicos deixam Red Nichols e Dorothy, a filhinha linda de oito anos sozinhos no quarto de hotel, o espectador percebe, de repente, que está agora diante de uma cinebiografia de um músico com vida marcada por uma grande tragédia, no estilo meio daquele Melodia Imortal/The Eddy Duchin Story , de 1956.

É fantástico. Durante os, digamos, primeiros 40 ou 50 minutos de filme, temos uma passada rápida por vários lugares e épocas. De repente, temos uma seqüência que dura algo como dez minutos envolvendo pai e filha. E o espectador percebe claramente que virá a grande tragédia.

Demoram-se mais uns dez minutos, e a tragédia vem: tendo sido deixada num internato rico na Califórnia, a garotinha, que adorava a vida na estrada e a companhia de músicos e o ambiente boêmio, pega pólio e encefalite; diagnostica-se que ela dificilmente sobreviverá, em seguida que nunca mais vai poder andar. Nosso Red Nichols, o pai, toma-se de pavorosa culpa por tê-la abandonado, e jura que, se ela sobreviver, ele nunca mais tocará o trompete. Jura e cumpre; compra uma casa, para viver perto da família, e ali se instala, usando toda a força possível para animar a garotinha a lutar contra a pólio e exercitar o uso das pernas.

Corte de seis anos. Ele agora, durante a Segunda Guerra, trabalha como operário em estaleiro. Aniversário de 14 anos da filha Dorothy, que já anda, embora com ajuda de muletas; montes de garotos. (Um parênteses: a Dorothy de 14 anos é interpretada pela então muito jovem Tuesday Weld; ela estava com 15 anos na vida real e este foi seu primeiro papel dramático, segundo o livrão The Paramount Story.) Pois bem; Dorothy, que já não se lembra do passado do pai, se assusta – assim como os amigos – ao ouvir a mãe dizer que todos aqueles hoje famosíssimos band leaders haviam tocado com o pai operário. O pai chega à festa, pára o toca-discos. Os meninos caçoam dele. A mulher aparece com um instrumento; ele tenta tocar para mostrar quem é, e saem notas desafinadas.

Logo em seguida, a filha que já não se lembrava mais do motivo pelo qual o pai parou de tocar de repente se lembra de tudo, dá lição de moral nele, diz para ele que quando ela precisou de encorajamento ele deu. O pai volta a praticar o instrumento – e aí teremos um final estupidamente meloso, hollywoodiano no pior sentido que a palavra possa ter.

Terminado o filme, atarantado com toda esta falta de estilo, ou mistureba de vários estilos, fui aos alfarrábios ver se existiu por acaso um Red Nichols, de quem eu nunca tinha ouvido falar, em 49 anos de gostar de música e de cinema. Sim, claro, ele existiu. Nasceu mesmo em Ogden, Utah, como se diz no filme, em 1905. Foi, sim, para Nova York. Tocou, sim, com todas essas feras que depois viraram famosíssimos. O filme de 1959, diz a Penguin Encyclopedia of Popular Music, até fez a carreira dele se reavivar. “Sua carreira foi rejuvescida por The Five Pennies, de 1959, uma cinebiografia tipicamente sentimental com Danny Kaye interpretandop Nichols, que tocou seus próprios solos na trilha sonora.” 

Morreu em 1965, em Las Vegas.

O livrão da Paramount diz que ele tocava corneta – cornet. Mas a Encyclopedia of Popular Music diz trompete.

Leonard Maltin deu duas estrelas e meia e ralas palavras, falando em trompete: “Danny plays jazz trumpeter Red Nichols in this sentimental biography. Only bright spots are musical numbers, especially duets with Kaye and Armstrong. VistaVision.”

Vejo também no Cinemania que o filme teve quatro indicações para o Oscar: Nominated for Cinematography – Color 1959: Daniel L. Fapp; Nominated for Costume Design – Color 1959: Edith Head; Nominated for Music – Scoring of a Musical Picture 1959: Leith Stevens; e Nominated for Song 1959: Sylvia Fine – Music & Lyrics

A garotinha que faz Dorothy aos seis e oito anos, Susan Gordon, é linda, parecidíssima com a Tuesday Weld e um encanto de atriz mirim; aparentemente, sumiu no mapa.

A Lágrima que Faltou/The Five Pennies

De Melville Shavelson, EUA, 1959.

Com Danny Kaye (Red Nichols), Barbara Bel Geddes, Louis Armstrong (como ele mesmo), Tuesday Weld (Dorothy aos 14 anos)

Roteiro Melville Shavelson e Jack Rose (este último, também produtor)

Bas em texto de Robert Smith

Produção Paramount

Cor, 117 min.

10 Comentários para “A Lágrima Que Faltou / The Five Pennies”

  1. O filme é muito bom, mas eu queria baixar a legenda e nao consigo. Alguem pode me ajudar?
    Agradeço

  2. Adorei o filme, principalmente quando Louis Armstrong aparece. Sou admirador dele e gosto de tocar trompete.

  3. a pessoa que escreveu toda esta nota sobre o filme, vai no cinema como critico, só pra ver erros e problemas. O filme é somente um musical
    com cenas com Louis Armstrong cantando e tocando junto com Dannie Kaye, um grande ator mímico. Somente a cena de When the saints go marching in na boate vale o ingresso.
    Eles tocam trompete e não corneta.

  4. Discordo com muita coisa ai…

    Esse filme esta entre os meus TOP 5, espetacular, sem tirar nem por.

  5. Danny Kaye fez filmes melhores sem dúvida,um deles é O Homem do Diners Club, de 1963, dirigido pelo maluco Frank Tashlin.

  6. “The Five Pennies”não é bem Danny Kaye fazendo o papel de Red Nichols: é Danny Kaye como Danny Kaye. Por isso é muito divertido e sentimental. Segue a formula chapliniana de fazer rir e chorar. Kaye era um raro “onde show man” e hoje anda esquecido pois no Brasil, por exemplo, seus filmes são quase todos inéditos em DVD. Absurdo.

  7. o filme é um musical que explora o talento de vários jazz-bander. É um filme leve, despretencioso e deliciosamente romântico. Adorei e comprei um exemplar para fazer parte dos meus filmes clássicos. As críticas ruins que se danem.

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