Matador em Conflito / Grosse Pointe Blank


Nota: ★★☆☆

Anotação em 1998, com complemento em 2008: Um filme estranho. Me deixou um tanto perplexo. É bem feito, inteligente. Tem boas piadas. É um humor negro absolutamente corrosivo. Tem um lado de fortíssimo, violentíssimo anti-establishment – mas que eu suspeito só passe para os espectadores mais informados. (Bem, mas é sempre assim, não é?) John Cusak faz o papel de Martin Blank, um assassino profissional que aprendeu o ofício no Exército e depois na CIA, e mais tarde dedicou-se a trabalhar por conta própria. Ele repete isso várias vezes ao longo do filme – o que, por si só, já é um ataque frontal ao sistema.

Os encontros e telefonemas dele para o psiquiatra são excelentes. O psiquiatra não quer mais cuidar dele, porque desenvolveu uma relação pessoal com ele – simplesmente tem medo de ser morto, e por isso continua recebendo suas visitas. As piadas em torno da análise são ótimas.

Vai haver uma reunião dos dez anos de formatura da escola, em sua cidade, Detroit. Por coincidência, um cara que ele tem que matar é de Detroit, e ele resolve ir. Lá, reencontra a paixão da adolescência, Debi (Minnie Driver, ótima).

Quando descobre a profissão dele, Debi diz que ele é um psicopata, e ele retruca, com lógica absoluta, que os psicopatas matam sem motivo, e ele mata com motivo, para viver, para ganhar a vida.

Há ainda um rival de Martin, Grocer (Dan Aykroyd), que quer que os matadores profissionais se unam, façam uma espécie de sindicato, para poder barganhar com os empregadores e conseguir preços melhores; sabe como é (diz ele a Martin), com o fim do comunismo, do muro de Berlim, o mercado ficou meio saturado.

Eis aí, portanto, que poderíamos ter um belo filme, agressivamente anti-establishment. A cena da loja de conveniência explodindo e as dezenas de besteirinhas do consumo caindo em toda a parte, por exemplo, faz lembrar a cena final de Zabriskie Point, de Antonioni, aquele manifesto anticonsumo, anticapitalismo. Quando enfrenta o rival Grocer, aniquila-o literalmente com um aparelho de TV, o que é uma das metáforas mais nuas e cruas que pode haver.

O problema é que, em várias situações, e especialmente no fim, quando Martin descobre que o homem que tem que matar é o pai de Debi, e resolve salvar a vida dele e enfrentar Grocer e um grande bando, e mais dois agentes federais, o filme vira o pior tipo de ode à violência possível, à la as merdas todas de Stallone, Schwarzenegger et caterva. Quer dizer: depois de denunciar a violência patrocinada e abençoada pelo Estado, o filme vira ele mesmo um exemplo da pior violência mostrada pelo atual cinema americano.

Para registrar: Grosse Pointe Blank, o título original, me parece um trocadalho do carilho. Grosse Pointe é a cidadezinha perto de Detroit onde os heróis nasceram e onde se dá boa parte da ação. Blank é o nome do herói, como já se disse. E point blank, claro, é à queima roupa.

         Interessante ver que a música é de Joe Strummer, o líder do lendário Clash, grupo importantíssimo da música inglesa; ele foi também o autor de uma belíssima trilha sonora para um filme obscuro (nunca ouvi falar de ele ter passado no circuito comercial aqui, nem sei se foi lançado em vídeo), Walker.

Matador em Conflito/Grosse Pointe Blank

De George Armitage, EUA, 1997.

Com John Cusak, Minnie Driver, Joan Cusak, Dan Aykroyd, Alan Arkin

Argumento Tom Jankiewicz

Roteiro Tom Jankiewicz e D.V. DeVincentis & Steve Pink e John Cusak

Música Joe Strummer

Produção Hollywood Pictures e Caravan

Cor, 107 min

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